Copom interrompe ciclo de cortes dos juros
Na quarta-feira, dia 19 de junho, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central do Brasil decidiu, por unanimidade, pela manutenção da taxa básica de juros da economia em 10,50%, interrompendo, assim, o ciclo de cortes na política monetária iniciado no ano passado. Na avaliação do comitê, o cenário exige a manutenção da política monetária contracionista por mais tempo - período suficientemente longo para consolidar o processo de desinflação, como também para a promoção da ancoragem das expectativas ao redor de suas metas. Na nossa avaliação, as possibilidades de retornar a um ciclo de afrouxamento dos juros ainda em 2024 são muito baixas.
Segundo o comunicado, os membros do Copom avaliam que o cenário externo é volátil e desafiador para as economias emergentes. Isso se dá especialmente em função da incerteza associada à condução da política monetária norte-americana, que permanece adiando a flexibilização do ciclo de alta dos juros, e à velocidade de queda da taxa de inflação de forma sustentada em muitas economias, num cenário em que os bancos centrais se mostram comprometidos com o alcance das suas metas de inflação. Internamente, a atividade econômica e o mercado de trabalho seguem surpreendendo. No campo da inflação, o índice cheio está desacelerando, mas os núcleos permanecem acima da meta de inflação. As expectativas seguem desancoradas em 4,0% para 2024 e 3,8% em 2025.O comitê também ressaltou que a ancoragem das expectativas está associada à ancoragem das expectativas e à redução dos prêmios de risco dos ativos financeiros.
As projeções do Comitê para o IPCA em 2025, em seu cenário de referência, atualmente estão em 3,4%, portanto acima da meta de 3,0% para2025. No cenário alternativo, no qual a taxa básica de juros é mantida em10,50%, a projeção da autoridade monetária para o IPCA atinge 3,1%. No balanço de riscos, o Banco Central evidencia fatores de risco em ambas direções: do lado altista, o comitê traz a possibilidade de maior persistência de pressões inflacionárias globais e também de maior resiliência da inflação associada aos serviços no cenário doméstico; pelo lado baixista, o risco é de uma desaceleração da atividade global maior do que a projetada e também dos riscos associados à desinflação global em função da intensidade do aperto monetário sincronizado.
Em linhas gerais, a decisão de manter a Selic em 10,50% a.a. não surpreendeu. Depois de semanas de expectativas se afastando da meta, a inflação de maio ter vindo mais alta do que o previsto (e qualitativamente pior), bem como o mercado de trabalho seguir pressionado, as recentes derrotas do governo no Congresso indicam que o ajuste das contas públicas via receita estão se esgotando, colocando ainda mais pressão na questão fiscal. O fato da decisão ter sido unânime reduz um pouco a incerteza quanto à condução futura da política monetária. Entretanto, ainda falta muito para que a desconfiança sobrea nova formação do Copom com relação ao compromisso de perseguir o centro da meta de inflação se dissipe de vez.
Fonte: Fecomércio-RS