Banco Central eleva SELIC em 1,0 p.p. e indica mesma dose nas reuniões de janeiro e março
Sem política fiscal crível, comitê reconhece cenário adverso e acelera alta da taxa de juros básica da economia
Na quarta-feira, dia 12 de dezembro de 2024, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central do Brasil (Bacen) decidiu pela elevação da taxa básica de juros em 1,00 p.p., acelerando o ciclo de alta. Dessa forma, a Selic passa a ser de 12,25% a.a.. Além da alta, o comitê indicou novas elevações na mesma magnitude nas próximas duas reuniões – caso confirmado o cenário esperado – numa manifestação de compromisso com o alcance da meta de inflação e, com isso, uma tentativa clara de evitar perda de credibilidade. O tom mais duro vem em resposta à deterioração acentuada da ancoragem das variáveis nominais em reação à ausência de compromisso fiscal do Executivo, que ficou evidente na insuficiência do pacote de corte de gastos anunciado juntamente a isenção pretendida do IR.
O cenário para a decisão, segundo o comitê, contou com ambiente externo que segue desafiador, agora com dúvidas sobre a postura do FED diante da conjuntura dos EUA que deve responder às políticas (inflacionistas) do novo governo. No cenário doméstico, o PIB do 3º trimestre de 2024 indicou um hiato ainda mais aberto do que o previsto anteriormente (economia rodando acima do potencial), com inflação cheia e nas medidas subjacentes acima da meta, e desancoragem adicional relevante das expectativas para o IPCA em 2024 e 2025. Na avaliação do balanço de riscos, permaneceu o viés altista, com avaliação de maior adversidade – ou seja, condições mais difíceis – e menor incerteza – ou seja, com menor volatilidade/variação – em um cenário cujos preços dos ativos e as expectativas pioraram de forma relevante como reação do anúncio fiscal. Nas projeções de inflação do próprio Copom, utilizando câmbio em patamar expressivamente mais desvalorizado que na reunião anterior (5,95/US$ retirado do Focus em R$ vs. R$ 5,60/US$), as estimativas para o IPCA subiram em todos horizontes analisados e se distanciaram da meta, subindo de 3,5% para 4,0% no 2° trimestre de 2026 (horizonte relevante para a Política Monetária).
Com riscos inflacionários cada vez maiores contratados pela falta de compromisso com o equilíbrio fiscal, a reação da política monetária em termos de magnitude e sinalização do ritmo à frente, buscaram dar um choque de credibilidade e dissipar, pelo menos em parte, as dúvidas que recaem sobre à condução da política monetária e o compromisso do Banco Central em alcançar a meta num contexto de mudança de gestão da Autoridade Monetária. Assim, se o cenário não se alterar sensivelmente, a Selic subirá para 14,25% a.a. já no fim de março de 2025, uma taxa bastante elevada, mas que não necessariamente será a terminal. Isso porque, não havendo uma mudança por parte da política fiscal (altamente expansionista), a dose da Selic para ancorar as expectativas e levar a inflação à meta pode ser ainda maior. Assim, a decisão abre espaço para uma necessária, porém pouco provável, reação na política fiscal que evite penalizações ainda maiores para controlar o desequilíbrio macroeconômico produzido pelos gastos excessivos. Mais detalhes sobre a decisão, sobretudo quanto às ponderações de cada componente do comitê, serão conhecidos na próxima terça-feira com a divulgação da ata.
Fonte: Fecomércio-RS