Banco Central eleva taxa SELIC em 0,25 p.p.
Na quarta-feira (19/9), o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central do Brasil (Bacen) decidiu, por unanimidade, pela elevação da taxa básica de juros em 0,25 p.p.. Dessa forma, a Selic passa a ser de 10,75% a.a.. A última vez que o Bacen havia aumentado os juros havia sido em agosto de 2022, quando a Selic atingiu 13,75%.
A decisão do Copom, todavia, não surpreendeu. Desde o anúncio do PIB do 2º trimestre de 2024 e, na sequência, com a divulgação dos dados do mercado de trabalho e a piora dos dados fiscais, criou-se elementos suficientes no cenário para que se justificasse alta da taxa de juros local. Na decisão do dia 19, o comunicado apenas confirmou essa leitura de cenário.
Ao divulgar sua decisão, o comitê ressaltou que o ambiente externo permanece volátil. Nos EUA, há ainda muitas dúvidas quanto à evolução da atividade econômica e da inflação e, consequente, da intensidade de resposta do FED. Ainda que a maior parte dos bancos centrais das principais economias do mundo esteja comprometida com o alcance da meta de inflação, o cenário atual é notadamente marcado por uma menor sincronia das políticas monetárias entre os países. Isso cria um cenário mais desafiador para as economias emergentes em virtude dos diferenciais de juros, com impacto sobre a dinâmica de moedas e outros ativos financeiros.
Já no âmbito interno, a intensidade da atividade econômica, o mercado de trabalho apertado e medidas de inflação subjacente acima da meta pressionam o cenário prospectivo da inflação. Além disso, as expectativas de inflação seguem desancoradas. Na avaliação do balanço de riscos do Banco Central há um desiquilíbrio que pende para alta de inflação e de expectativas de inflação. Entre os principais riscos altistas, o Copom destaca a desancoragem das expectativas de inflação por períodos mais longos que o previsto, um processo em que a inflação de serviços mais intenso, em função de um hiato do produto mais apertado, e a possibilidade de a conjunção de políticas econômicas internas e externas que gerem inflação, através, por exemplo, de uma depreciação cambial mais longeva. Já nos riscos de baixa, os destaques são uma desaceleração global da atividade mais acentuada do que o esperado e também a possibilidade de os efeitos da política monetária serem mais fortes do que o esperado na economia global.
Mais uma vez, o comitê apontou para as decisões de política fiscal como um ponto relevante de preocupação, dada a sua fundamental importância para a dinâmica das expectativas da inflação e para a definição de prêmios de risco dos ativos financeiros.
A elevação da Selic e, principalmente, o comprometimento do comitê em persistir numa política de alcance da meta de inflação é um ponto fundamental para a garantia da credibilidade da política monetária. Ainda que o aumento da taxa de juros represente custos relevantes para os cofres públicos e para a sociedade brasileira, a não elevação dos juros diante do cenário atual e prospectivo poderia representar altas ainda maiores no futuro e um cenário de aperto monetário ainda mais duradouro. Além disso, a decisão por unanimidade, a partir de um comitê que conta atualmente com 4 dos 9 membros instituídos pelo atual governo e com a presença do futuro presidente da instituição, também ajuda a reduzir ruídos quanto às definições de política monetária no próximo mandato.
Por fim, o comunicado indicou que o cenário de referência do Banco Central projeta taxas de inflação de 4,3% para 2024, 3,7% para 2025 e 3,5% para o 1º trimestre de 2026. Este cenário considera um câmbio de R$5,60/US$, bandeira amarela para a energia elétrica em dezembro de 2024 e dezembro de 2025, e o preço do petróleo seguindo aproximadamente a curva futura pelos próximos seis meses, com aumento de 2% ao ano posteriormente.
Assim, o cenário de referência do Banco Central é claro ao mostrar que o ciclo de alta de juros já previsto pelo mercado é insuficiente para trazer a inflação de volta à meta. Dessa forma, dado o cenário de referência e o tom do comunicado, é esperada uma revisão nas expectativas de taxas de juros, mais alinhadas com um ciclo de aperto monetário maior do que o anteriormente previsto.
O aumento da Selic em 18 de setembro deve apenas inaugurar um ciclo de alta de juros, que deve continuar e pode até se intensificar nas próximas reuniões do Copom. A decisão do FED de reduzir a taxa americana em 0,5 p.p., todavia, pode representar algum tipo de amortecedor nesse processo de alta, em virtude de um possível processo de valorização da moeda brasileira. No entanto, isso também depende de outras variáveis, com destaque para a dinâmica das contas públicas.
Fonte: Fecomércio-RS